SEVERA VIDA...

Um dia fui cuidador;

Hoje sou cuidada;

Antes eu ajudava a minha família, e agora é ela que me ampara;

Já se passaram OS TIC-TACS DO TEMPO;

JÁ ME PASSARAM AS PERDAS DAS HORAS;

ANTES EU ERA MENINA;

AGORA ME ENCONTRO SENHORA;

REFLEXO DO ESPELHO DAS MINHAS CONTINGÊNCIAS;

CONTIDAS NOS SEIOS DAS ESTRADAS TORTAS;

MORRI E NASCI;

E NEM ASSIM CHEGUEI NO CÉU, QUASE ME DEBRUCEI NO ABISMO DO INFERNO;

MAS SUPORTEI A DOR, O SOFRIMENTO E O FOGO QUE ARDIA NA ARDUA PASSAGEM DA VIDA.

FUI CAPAZ DE MORRER VÁRIAS VEZES;

SÓ PARA OBTER MAIS UM DIA DE OXIGÊNIO;

ME MATEI MENINA, ME MATEI MULHER;

QUEBRANDO O ENCANTO DAS MINHAS CANTIGAS, ESCONDENDO AMORES;

CONSEGUI VIVER NA DOR DE RECONHECER QUEM SOU;

PASSEI UMA VIDA SEVERINA;

DORMINDO COM A LUA,  ACORDANDO COM O SOL E SONHANDO COM A CHUVA.

MORRAVA EM UMA CASINHA FRÁGIL, COMO UMA ESPINHA DE PEIXE;

E DA PEQUENA JANELA EU PODIA SENTIR, QUE OS VENTOS PODIAM SER BONS OU RUINS;

O TEMPO ME USOU E ABUSOU;

SOU APENAS UM PEDAÇO DE CARNE, COM UM ESPÍRITO PELA METADE;

SOU METADE DO MEIO QUE ME TRANSFORMOU, APENAS DE MIM, EXISTEM RASTROS DO QUE FUI E  DO QUE SOU;

JÁ NÃO ME RESTA A LIBERDADE DO AMOR, NEM AS SIMBOLOGIAS DAS CANTIGAS;

JÁ NÃO ME IMPORTA A IDEOLOGIA DO MELHOR;

SE JÁ NÃO HÁ MEU TEMPO DE EXISTIR!